🌊 #002 — Rinha de Formatos Literários.
NarrATO X eupistemologia — Escolha quem dará as caras primeiro.
Trilha sugerida: Orijàh — Cuba
INDO E VOTANDO:
Vote pra priorizar. Leia abaixo pra se contextualizar.
Esta edição do Fluxo ~ carrega o trampo visual de Rayssa Medeiros.
Estou tentando imaginar a cabeça de quem caiu de paraquedas na Poligonal e só está sendo bombardeado por vários “VENS AÍSES” seguidos.
O que tem que ficar nítido é que demoro demais para fazer as coisas. Tipo, bastante.
Sabe o jogo que mencionei ter entrado na esteira de produção principal no último Fluxo? Eu e o Pena Negra o idealizamos em 2016!
E agora que a corrente do Fluxo está incontrolável, vou aproveitar para trazer à tona outra ideia que nasceu neste mesmíssimo ano e envelheceu como vinho nesta quase uma década. Deu para aumentar tanto o repertório quanto a biblioteca. Explico.
Quero que vocês finalmente conheçam o NarrATO.
NarrATO
Cimento, tijolos e vigas de ferro para Construtores de Histórias.
Desde antes de me entender como gente, eu já fabricava mundos na minha cabeça. Imediatamente após aprender a ler, devorando Turma da Mônica que catava na banca e uns Sherlock Holmes que conseguia aperreando mainha ao ver uma das capas na revista da Avon (pense numas revistas cheirosas), eu descarregava toda aquela torrente de informação que somente um cérebro recém-alfabetizado e hiperativo conseguiria em quadrinhos desenhados à mão e filmes com a câmera do progenitor, que filmava em VHS, estrelando meus gelocósmicos em sequências de ação e reviravoltas estrambólicas. *respiro*
Crio desde muito antes de entender a mim e a vida e, por muito tempo, isso foi delicioso e livre. Até eu querer entender como empacotar essa minha criatividade em obras. Pô, se consumo, consigo fazer, né? E por muitos anos — muitos, muitos mesmo, entre 2006 e 2013 — criei histórias que não se sustentavam em pé. Tinham boas ideias, até. Mas, na hora de realmente desenvolver seus temas, personagens, espaços e tempos, tudo desmoronava como um castelo de cartas. Eu não tinha uma visão sistemática e, repetidamente, cometia o erro amador — que também acontece com cineastas e game designers neófitos — de iniciar uma ideia sem saber nitidamente onde se quer chegar. As histórias sempre desmanchavam sobre suas próprias complexidades e eu não podia consertar tudo. Oras, eu sequer conseguia identificar os problemas.

A parte boa de João Pessoa ser pequena é que até um boy aleatório como eu tem oportunidades privilegiadas. Em meados de 2015, eu já estava de saco cheio da UFPB e resolvi desblocar Rádio, TV e WEB de propósito para puxar cadeiras práticas que eu sabia que me dariam ferramentas para começar a produzir de imediato. Peguei Oficina de Audiovisual, Edição e a cadeira que passei todos esses anos querendo: roteiro.
Lecionada excepcionalmente naquele ano por Arthur Lins, o livro central que ele usou para ministrar a cadeira foi esta ogiva nuclear:
Confesso que minha primeira atitude foi franzir o cenho. Pô, véi, um americano? Sério?
Porém, antes de sequer começar o livro, McKee alopra totalmente com a produção roliudiana e com a possibilidade de criar fórmulas mágicas.
"Story objetiva a criação de trabalhos que vão agradar o público nos seis continentes e continuar a viver em reprise por décadas. Ninguém precisa de mais um livro de receitas sobre como aquecer as sobras de Hollywood. Precisamos redescobrir as doutrinas submersas de nossa arte, os princípios básicos que libertam o talento. Não importa onde um filme é feito, se tiver uma qualidade arquetípica, ele engatilha uma reação em cadeia de prazer perpétua e global, levada de cinema a cinema e de geração a geração. Story é sobre formas eternas e universais, e não fórmulas." Story, pg 18. Robert McKee.
Ok, Roberto Marquinhos. Você me convenceu.
Amo muito esse McKee do Kaufman porque, lendo Story, dá nitidamente para imaginar ele sendo o Brian Cox putaço, mostrando que sua história está uma bosta porque suas ideias não estão amarradas por um tema central e está tudo solto, sem sentido. Ele interromper a narração do filme para falar que narração é um artifício preguiçoso é maravilhoso, também. Adaptação é uma grande punhetação roteirística, por isso é tão bom. Eu só demorei demais para entender o 3º ato. Apesar dos pesares, o Kaufman continua sendo um dos meus roteiristas preferidos de roliúde.
A partir daí, comecei a identificar minhas personagens sem motivação, meus ambientes sem nexo com a história, arcos de personagens inexistentes e diálogos que não funcionam como ação.
Não parei no McKee. Como ele mesmo prega, não existe um só jeito de fazer histórias. Devorei Doc Comparato, Syd Field e Blake Snyder, os mais pop. Na mesma época, canais épicos que estavam pipocando no YouTube, como o NerdWriter1 e o D4Darious, me apresentaram autores mais específicos como a K. M. Weiland e o John Truby, que passaram abaixo do radar das sugestões mais óbvias. Fui me entupindo de conhecimento ao mesmo tempo que via tudo sendo em inglês e só rolando na 'internet gringa', pensando: “Pô… Seria massa algo do tipo em brasileiro, né?”.
Aí comecei a rabiscar o NarrATO. Narratologia é o tipo de conhecimento que fui acumulando e, na ânsia de só trabalhar para existir, habilidades como esta, que lapidei por anos, nunca puderam ser usadas em plenitude. Até agora. Com a Poligonal, o NarrATO vai finalmente ver a luz do dia e vou poder compartilhar esta década de estudos narratológicos de um jeito acessível, instigante e com a paixão incandescente que só tenho com o que amo.
O NarrATO está sendo construído em um formato de curso com + de 10 horas de conteúdo e 12 módulos, baseado em 36 (!!!) livros de narratologia envolvendo cinema, Teatro, Narrative Design para Jogos e até Edição de Vídeo. E para incrementar este curso, artigos sobre aspectos da narratologia darão as caras aqui no Fluxo, na seção já separada no Substack.

eupistemologia
O Universo a partir de mim, poeira das estrelas.

Se você leu o Fluxo da semana passada até o final, ficou sabendo que este Fluxo aqui teria cringe. Não tenho problema nenhum com cringe, tenho até amigos que são. O poeta disse uma vez que cartas de amor são cringe, mas mais cringe ainda é quem não escreveu cartas de amor. Com este parágrafo ridículo, após horas escrevendo sobre como estudo narratologia com afinco, conheçam agora eupistemologia.
VAMOS ENRIQUECER O CÉSIO, AMIGUINHOS? INVOCO O FACEBOOK DE 2018.
Este sou eu sendo pós-irônico em 2018, cuspindo na cara de quem me queria no YouTube (e matando do nada um self-branding que trabalhei por 6 anos, pois sou desses). Esse soco foi real e delicioso, diga-se de passagem. Nesta época, eu já tava trampando profissionalmente com o iutubiu há alguns anos (prestando serviços a canais de empresas que, sob minha gestão, ultrapassaram 100K inscritos), mas do ponto de vista artístico, eu desprezava ter que me encaixotar num algoritmo que não chega a ser tão radioativo quanto o do Zuck, mas que, por outro lado, é um moedor de mão de obra gratuita.
Acontece que, assim como o NarrATO se enriqueceu com o passar dos anos, acumulei boas referências — e rascunhos — do que poderia funcionar, quanto a discurso, ritmo e forma para o eupistemologia comigo dando as caras depois de quase uma década sem exercer o ofício da interpretação.
O que o NakeyJakey está fazendo atualmente é uma das melhores coisas da internet, para mim. Ele consegue usar assuntos “rasos” e trazer reflexões super profundas de ângulos incomuns. Outro cara que faz o mesmo, mas nível de produção HBO, é o John Wilson.
O John Wilson é da mesma patota do Nathan Fielder. Essa galera é a mais doente da autoficção da atualidade. Só que assim, né? O John Wilson é um macho branco ianque. A minha pegada seria mais ação direta nordestina e sangue nos olhos. Mostrar é melhor que explicar, então ó:
3 desses roteiros estão sendo gestados há alguns anos. A ideia é ser ácido, porém justo. Nesta mesma 'linguagem conversada' em que o Fluxo é escrito.
Finalizando
Pois bem, dois formatos apresentados. Vocês escolhem quem dará as caras primeiro. Um é uma caixa de ferramentas. O outro é uma caixa de Pandora. Ambos serão formatos mensais, dando as caras em suas seções no Fluxo. Se um vencer, o outro não chegará tão cedo, OK?
Talvez não tenha ficado nítido, mas o que a gente está fazendo nesta publicação é preparar o terreno para o nosso canal no YouTube, que está para ser ativado ano que vem. Até lá, tem muito chão a ser andado e roteiro validado por aqui 😎